quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

É Proibido - Pablo Neruda (Poema de ano novo)

É proibido chorar sem aprender,
Levantar-se um dia sem saber o que fazer
Ter medo de suas lembranças.
É proibido não rir dos problemas
...Não lutar pelo que se quer,
Abandonar tudo por medo,
Não transformar sonhos em realidade.
É proibido não demonstrar amor
Fazer com que alguém pague por tuas dúvidas e mau-humor.
É proibido deixar os amigos
Não tentar compreender o que viveram juntos
Chamá-los somente quando necessita deles.
É proibido não ser você mesmo diante das pessoas,
Fingir que elas não te importam,
Ser gentil só para que se lembrem de você,
Esquecer aqueles que gostam de você.
É proibido não fazer as coisas por si mesmo,
Não crer em Deus e fazer seu destino,
Ter medo da vida e de seus compromissos,
Não viver cada dia como se fosse um último suspiro.
É proibido sentir saudades de alguém sem se alegrar,
Esquecer seus olhos, seu sorriso, só porque seus caminhos se desencontraram,
Esquecer seu passado e pagá-lo com seu presente.
É proibido não tentar compreender as pessoas,
Pensar que as vidas deles valem mais que a sua,
Não saber que cada um tem seu caminho e sua sorte.
É proibido não criar sua história,
Deixar de dar graças a Deus por sua vida,
Não ter um momento para quem necessita de você,
Não compreender que o que a vida te dá, também te tira.
É proibido não buscar a felicidade,
Não viver sua vida com uma atitude positiva,
Não pensar que podemos ser melhores,
Não sentir que sem você este mundo não seria igual.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Coisa profundamente irritante nº 14 - Titulos póstumos

Funerais de pompa e circuntância, rituais disto e daquilo para uma pessoa falecida, nada disso faz sentido. Isso é continuar a desprezar a própria pessoa. Se não lhe demos nada em vida, continuamos a não dar. Será que não percebem que já cá não está para ver? Eu pessoalmente não quero cá nada disso. Embrulhem-me num lençol velho e atirem-me para um sitio qualquer, onde não incomode... Agora em vida... Em vida, façam-me homenagens, tratem-me com carinho e admiração, com respeito, dêem-me amizade, que eu agradeço e fico com certeza mais feliz. Se não o fizerem, ao menos não mo façam depois, que isso vai-me irritar profundamente até depois de morta. Podem ter a certeza!

Isto vem a próposito do falecimento de Carlos Pinto Coelho. Onde é que ele estava? O que aconteceu ao "Acontece"? Apareceu agora, agora já todos se lembram e fazem homenagens. Para quem? Para ele? Não... Para quem está cá, para se sentirem melhor consigo mesmos. Continuam a não lhe ligar nenhuma, como acontece há já algum tempo, mas agora parece mesmo que sim.

Eu tenho cá para mim é que temos de nos fazer felizes uns aos outros... Em vida. Deixem lá as pessoas depois, que não estão cá para ver. Percam o medo de aceitar que depois de mortos o mais provável é não haver mais nada e façam o que tiverem de fazer agora! Se houver algo depois já só o vamos saber depois. Então... Que fique para depois. Vamos enterrar os mortos e tratar dos vivos, TRATAR DOS VIVOS!

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Somos todos homens-elefante

As voltas que o mundo dá...

Actualmente eu posso dizer que gostaria de espancar ou gasear um cigano ou um preto (ou vários, para não desperdiçar gás), mas não posso dizer o mesmo em relação a um cão ou vários (pelo mesmo motivo). Não me interpretem mal, não acho nada mau a valorização do cão, bem pelo contrário, o que acho mau é a continuação da desvalorização das pessoas de etnia diferente, ou de outra qualquer coisa diferente... E a forma como isso continua a ser tão bem aceite em alguns meios. Portanto, neste caso as voltas que o mundo deu foi no sentido da valorização dos animais, pois os instintos básicos do ser humano em não aceitar o que é diferente, na realidade, continuam. Para isso existem várias teorias, eu pessoalmente gosto muito daquela que diz que não conseguimos gostar do que é diferente por não nos revermos nelas, ou seja, básicamente gostamos é de nós próprios.

Também é curioso que apesar da nossa melhoria na forma como vemos os animais, eles continuem a ser tão mal tratados, se calhar só melhorámos a nossa teoria. Então eu acho que em termos teóricos melhorámos na relação com os animais e piorámos na relação com as pessoas diferentes, mas que na prática, continua tudo na mesma. Também tenho a minha opinião quanto ao facto de maltratarmos tanto os animais e não fazermos o mesmo em relação aos ciganos e pretos. É que os animais não falam e não se defendem tão bem. E tudo o que seja diferente, vulnerável (no sentido de estar ali, à mão de semear) e não fale, está tramado. Vejam o filme do homem-elefante, a sério, vale a pena. Levanta muito bem esta questão e dá que pensar.